quarta-feira, 27 de julho de 2011

Volta ao Ultraromantismo

Depois de um sem número de programas de TV aberta ou a cabo sobre a morte da cantora inglesa  Amy Winehouse, devo confessar que já estou um pouco farta desse acontecimento.

Entretanto, um comentário feito por uma VJ da MTV sobre a cantora chamou minha atenção: Ela relatou que a cantora dias antes de sua morte havia terminado com o namorado, este já cheio das recaídas da cantora para as drogas. O comentário da VJ diante disso foi: "De uma certa forma, Amy morreu por amor". Isso me  remeteu imediatamente a romances do começo do século XIX, no qual o protagonista sofre e sofre por amor, toma ópio e absinto para fugir da realidade e acaba se matando no final.

Esse enredo repetido "n" vezes por diversos escritores em diversos países, está incrivelmente na moda atualmente. Isso se levarmos em consideração que uma pessoa egoísta, a qual não reconhece seu próprio potencial, não reconhece o como tocou a vida das outras pessoas com sua arte (qualquer que seja), não reconhece como é amada pela família e seus fãs, pode tentar se consumir através das drogas, para fugir de uma realidade tão hostil (ser amada por todos, mas não ser amada por uma única pessoa), pode no final se matar "por amor".

O leitor deve saber uma coisa sobre mim para tentar entender este post: Amo o movimento ultraromântico, suas poesias e seus romances estão entre meus favoritos, porém compreendo que seus protagonistas eram no final das contas pessoas egoístas, que não enxergavam que há mais na vida além do amor romântico. Concordo que é uma porcaria que aquela pessoa que você gosta tanto, devota a maioria de seus pensamentos durante o dia, não gosta de você, é, mas não é o fim do mundo, literalmente!

Quem já foi adolescente ou já teve vinte e poucos anos sabe que o amor é infinito enquanto dura, como dizia o poeta, mas como somos seres mortais, sua duração está condicionada às vicissitudes da vida, mas nem por isso vale a pena matar-se (mesmo que seja de forma indireta através das drogas) por amor.

O amor é puro, não é egoísta, ele não mata, nem morre. O amor simplesmente é. Ele é o bônus de estar vivo.

Espero que tenham gostado do post! Obrigada e até o próximo!

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Amor grego

Desculpem-me fiéis leitores, mas depois de um mês colocando as idéias e a vida no lugar e, principalmente após o retorno de Saturno tive a idéia de escrever o post de hoje.

"De onde nós viemos e para onde nós vamos?" "Por que estamos aqui?" São perguntas que a Humanidade desde sempre fez. Acreditando em seu status especial dentre as criaturas divinas, foi bombardeada durante séculos com evidências contrárias que não estavam escritas em livros sagrados: A Terra gira em torno do Sol. o Sol é apenas mais uma estrela, a Humanidade não descende de Adão e Eva e sim, de hominídeos pré-históricos. Onde está o status especial reservado para as maiores criações do Ser Supremo?

Como muitos antes e depois deles os gregos criaram sua própria mitologia, a desmistificaram e a modificaram através dos séculos, fazendo estas mesmas perguntas. Dois gregos excederam-se na procura dessas respostas, e por isso tornaram-se "amigos ou amantes do saber ou conhecimento". Falo de Sócrates e Platão. Devo confessar que por causa deles minha maior crise existencial ocorrida há muitos anos não teve um desfecho mais terapêutico (trancada num consultório falando para um estranho meus problemas), e a eles devoto meu Amor Ideal.

Toda  vez que me encontro numa encruzilhada leio textos de Platão para entender que meus problemas e questões não são menos ou mais importantes que de outros, apenas são iguais, ou seja, não são, nem ao menos, originais. Isto me leva sempre a crer que se outro teve uma situação igual a minha, ou mesmo parecida, e conseguiu achar uma solução por que eu não poderia também? Não precisa sequer ser a mesma solução.

Platão e Sócrates viveram há mais de 2000 anos atrás e abordaram temas universais como Amor, Pós-Morte, Política, Ética, Alma, Conhecimento, Intuição, Metafísica, Religião, Verdade, Justiça, etc. Uma prova dessa universalidade: roteiros de filmes como "Matrix" e até livros clássicos como "A Divina Comédia" de Dante foram baseados ou abordaram idéias consideradas platônicas e/ou socráticas. Diante desta quantidade de temas abordados volto à noção de que alguém já passou por isso antes e, sobreviveu para contar ou ao menos questionar...

Sempre recomendo a leitura de "A República" e "O Banquete" para comprovar que amar os gregos (estes especificamente) tem suas vantagens. Quem sabe talvez sua próxima visita ao terapeuta possa ser adiada? Dê uma chance!

Obrigada e até o próximo post!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Um quadro bastou: Poesia em forma de pintura

Lembro-me como se fosse ontem: minha primeira visita ao MASP. Havia uma exposição sobre surrealismo, uma escola artística que eu pouco sabia e não dava a menor importância, pois para mim só existia Monet e o Impressionismo. A forma como ele pintava a luz, como ele a via, era fantástica para mim. E continua sendo, porém naquele fatídico dia de 1995, Monet ganhou um concorrente, seu nome era René Magritte.

Magritte, belga, nascido no final do século XIX, representante do movimento surrealista, assim como Miró e Dalí, pintou vários quadros, dentre eles, o que bastou: O Império das Luzes.


É um quadro relativamente simples num primeiro olhar, mas olhe novamente, olhe bem! Olhe a metade de cima do quadro, é um céu azul, diurno. Já a metade de baixo denota uma cena noturna. Esse paradoxo bastou para me convencer de que Magritte era um dos melhores pintores que já existiram. Repare bem, leitor, se você não olha de forma compartimentada (metade de cima e metade de baixo) essa cena lhe parece completamente realista, quando na verdade não é, ela é ilusória, surrealista. Quando perguntado sobre essa obra ele simplesmente respondeu: "A paisagem leva-nos a pensar na noite, o céu no dia. Na minha opinião, esta simultaneidade de dia e noite tem o poder de surpreender e encantar. Chamo a este poder de poesia."

Magritte estava certo e como todo bom poeta continuou a produzir seus "versos" coloridos, versos inclusive metalingüísticos como na pintura "A traição das imagens":


A inscrição na pintura quer dizer este não é um cachimbo. Num primeiro momento tem-se o baque em pensar: "Como assim isso não é um cachimbo?!" Pensa-se em significados ocultos escondidos dentro das pinceladas da pintura, ao que Magritte responde simplesmente: "E afinal alguém consegue enchê-lo de fumo?! Não. É apenas um desenho de um cachimbo. Se tivesse escrito por baixo do meu quadro "isto é um cachimbo", estaria mentindo."

Até sua morte esse pintor brincou com as impossibilidades dentro do real, como por exemplo no quadro "A chave de vidro":


Neste quadro temos o peso de uma pedra gigantesca contrastando com a leveza à qual lhe é atribuída pela pintura.

Ele brincou inclusive com a filosofia hegeliana nos quadros "Elogio da Dialética" e "As férias de Hegel", nos quais temos as regras de demonstrações lógicas (tese, antítese e síntese) utilizadas em imagens lúdicas. Para Hegel é preciso saber o oposto de ser para entendermos o ser (negação do ser), compreendermos sua função, objetivo, o seu conceito.

"As férias de Hegel" - "Pensava que Hegel...teria sido muito sensível a este objeto que tem duas funções opostas ao mesmo tempo, repelir a água e contê-la." - Magritte

"Elogio da Dialética" - "Um interior sem exterior dificilmente constitui  um interior" - Hegel
Espero que tenham gostado desse post um pouco mais filosófico e poético. Convido aos leitores a pesquisarem mais sobre a obra desse pintor magnífico e ver a poesia nas imagens, assim como ele queria que a víssemos.

Obrigada e até o próximo post!

domingo, 1 de maio de 2011

Mais um post sobre o casamento real: A família

Casamentos são festas para agregar a família como um todo. É uma celebração que visa dar boas-vindas àquela nova pessoa que entra no seio familiar e a união de duas famílias, as quais com o nascimento de herdeiros serão uma só.

Muito se falou na sexta-feira que dignatários de outros países não foram convidados para celebração. Somente membros da realeza européia e amigos próximos das famílias. Eu não vi a lista, mas imagino que um sultão e um sheik à parte, TODOS os monarcas, reinantes ou não, presentes ao casamento pertencem à mesma família.

Tudo começou há um pouco mais de 200 anos atrás. Um plano arquitetado com o simples objetivo de prevenir que outro Napoleão surgisse e engalfinhasse a Europa toda em uma nova guerra. O raciocínio, já antigo naquela época, consistia em colocar parentes sanguíneos em tronos diversos e até rivais da Europa, com o objetivo de trazer a discussão diplomática para o seio familiar, partindo do pressuposto que a família é mais importante do que os interesses de Estado.

Isso ficou bem exposto quando em meados dos anos 50 falou-se da volta da Grã-Duquesa Anastácia da Rússia, que era considerada como viva pelos anti-comunistas, isto é, uma relíquia supostamente viva do esplendor da corte dos Romanov. Anastácia foi de fato assassinada junto com seus pais e irmãos em 1918, fato este comprovado pela exumação dos corpos, encontrados numa floresta da Sibéria, e eventual realização de testes de DNA no final da década passada. Porém volto ao tema: em meados dos anos 50 apareceu uma sueca com nome de Anna Anderson que se dizia ser a Grã-Duquesa que havia perdido e recuperado sua memória,  o que fez com que muitos acreditassem na história dela. Muitos, mas não todos. O tio-avô do noivo mais comentado do momento, irmão do Príncipe Philip, chamado de Louis, Lord Mountbatten foi chamado para comentar o assunto da volta de Anastácia na figura de Anna Anderson. Ele foi categórico: "Ela não é minha prima, se fosse eu saberia".

O que Lord Mountbatten quis enfatizar é que a família saberia se um membro de seu seio escapou da carnificina produzida pela Revolução Bolchevique de outubro de 1917. Fato que infelizmente não ocorreu. Aliás, o Czar Nicolau II, primo do Rei George V do Reino Unido, pensou até o último minuto que o primo poderoso iria salvá-lo de alguma forma. Para o Rei só restou a amargura da omissão na ação e um país a reconstruir depois de uma guerra mundial (o Reino Unido não teve guerra em seu território, porém viu 2,19% de sua população morta nas trincheiras européias).

A família de Lord Mountbatten chama-se Saxe-Coburgo-Gotha. Nome de um ducado ínfimo na atual Alemanha. O projeto começou tímido porém ousado. Em 1796 a irmã mais velha dessa família (que na época se chamava Saxe-Coburgo-Saalfeld), Juliana, casou-se com o Grão-Duque da Rússia Constantino, irmão do czar da Rússia. Desse casamento não houve herdeiros, porém houve influências. O irmão mais novo dela, Leopoldo, tornou-se um favorito na corte russa. Sendo incluído nas fileiras militares como coronel, ainda com 6 anos de idade. Sem ter perspectivas de assumir o ducado de seu pai (por ser o irmão mais novo), ele teve que "dar um rumo à sua vida", e foi o que fez, com a aproximação de Napoleão, ele tornou sua nomeação de coronel efetiva e começou a traçar sua carreira militar.

Entre as idas e vindas da guerra ele conheceu não só o próprio Napoleão, como também o Príncipe Regente do Reino Unido. Este era filho do famoso Rei George III, que perdeu as 13 colônias (agora EUA), e ficou louco ("As loucuras do Rei George" retrata isso). O Príncipe Regente tinha uma filha, Carlota, que estava comprometida com o Príncipe da Holanda, Guilherme. Entretanto, ela não queria se casar com ele (havia boatos de que ele era bissexual, além de bêbado), pois queria levar uma vida sem escândalos--- escândalos na família real britânica não são um fenômeno do último século, a mídia tinha um prato cheio com o casamento falido dos pais de Carlota. Além do mais um casamento com o futuro Rei da Holanda implicava em passar 6 meses do ano lá e os outros 6 em Londres, o que ela não queria terminantemente. O czar da Rússia, Alexandre, sabendo que a princesa queria no final das contas casar-se com alguém adequado e por amor e, principalmente, querendo aliar a poderosa marinha mercante holandesa à marinha de guerra russa (ainda em construção), pensou numa saída: apresentaria Leopoldo à Carlota, para que Guilherme ficasse livre para casar com a irmã, Anna.

O que aconteceu? Carlota e Leopoldo casaram-se em 2 de maio de 1816 e Guilherme e Anna em 21 de fevereiro do mesmo ano. Em 1817 Carlota morreu de parto e Leopoldo perdeu seu "rumo na vida". Entretanto, seu sogro e os parlamentares britânicos, que gostavam dele, o consideraram para assumir um trono de um Estado recém-criado para servir de obstáculo entre a França e a Holanda, a Bélgica. Em 1831 Leopoldo se tornou Rei dos belgas e começou uma dinastia, a de Saxe-Coburgo-Gotha, que perdura no trono até hoje. Porém bem antes disso, Leopoldo conseguiu a vitória suprema para colocar sua família no grau de relevância das realezas européias: teve uma sobrinha e um sobrinho.

Com a morte de Carlota, a única herdeira legítima do trono britânico, houve uma "corrida" dos tios dela para casarem-se e terem herdeiros legítimos (pasmem: todos estes tios eram homens de meia-idade que nunca tiveram um relacionamento oficial, somente amantes e concubinas). Um desses tios casou-se com a irmã de Leopoldo; Eduardo de Kent casou-se em 1818 com Vitória de Leiningen, uma viúva alemã pobre com dois filhos. Desse casamento nasceu em 24 de maio de 1819 "A Sobrinha": Alexandrina Vitória, que a partir de 1837 seria conhecida como Rainha Vitória, a monarca que mais tempo reinou no Reino Unido, 64 anos.

No mesmo ano de nascimento da sobrinha, em agosto, nasceu o sobrinho: Alberto. Nasceu na mesma cidadezinha que Leopoldo nasceu, Coburgo na Alemanha, então capital do ducado de Saxe-Coburgo- Gotha. Como os primos de primeiro grau nasceram no mesmo ano e, como Leopoldo, Alberto era o irmão mais novo e não assumiria o ducado do pai, ele deveria "dar um rumo à sua vida" casando-se com sua prima inglesa. O casamento aconteceu em 10 de fevereiro de 1840. Desse casamento nasceram nove filhos e estes nove filhos casaram-se com diversos monarcas, príncipes, princesas, imperadores estrangeiros e tiveram filhos que também casariam-se com diversos monarcas, etc.

O fim da história: Os descendentes dos Coburgo, como é chamada a família acima mencionada, ocupam atualmente os tronos de Reino Unido, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Noruega, Suécia, Espanha. Ocuparam no passado também tronos que não existem mais como: México, Rússia, Alemanha, França, Portugal, Grécia, Bulgária e até do Brasil ( a Princesa Isabel foi casada com o Conde D'Eu que pertencia via linha materna à mesma família). Ocupam também a chefia de casas nobres que apesar de não mais governarem nada, ainda tem o "sangue azul", como Hannover, entre outras.

Agora deu para entender o por quê de só haver gente da família no casamento do século, né?! O plano de evitar guerras com casamentos de fato falhou, pois desde que os Coburgo assumiram os seus devidos tronos o mundo passou por diversas revoluções e duas guerras mundiais, o que prova que em negócios de Estado a família sempre fica em segundo plano.

Termino este post com uma anedota: A Princesa Leopoldina do Brasil, filha de D. Pedro II, casou-se com Luís de Saxe e após uma breve residência no Brasil, foi morar com o marido e filhos em Coburgo, terra natal dele, morreu lá ainda jovem em decorrência de um parto mal assistido, aos 24 anos. Os habitantes da cidadezinha ficaram comovidos com a morte dela e a reverenciavam sempre que podiam. Ela foi enterrada em Coburgo dentro da igreja que contém todos restos mortais dos duques e duquesas de Coburgo. Não sei se tem a ver com a passagem da Princesa do Brasil pela cidade, mas Coburgo é considerada a capital do samba na Europa. Isso mesmo, você não leu errado, lá há inclusive um festival de samba que ocorre em julho.

Para o leitor ver que "a família" tentou inclusive chegar no Brasil...

Obrigada até o próximo post!

terça-feira, 26 de abril de 2011

Post perdido: "O Dom Pedro de Portugal não tem nada a ver com o do Brasil" - Especial 1822 - iG

Pensei em escrever um post sobre este assunto mencionado no título, isto é, como figuras históricas brasileiras e portuguesas são vistas de forma diferente nos dois lados do Atlântico.

Primeiro pensei em escrever sobre o primeiro Pedro, o Cabral. Ele somente conseguiu a fama que hoje atribuímos a ele, pois D. Pedro II personificado pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro pesquisou em arquivos portugueses (como parte de sua tentativa de criar uma nação brasileira, assunto de post anterior) a chamada "certidão de nascimento brasileira", a Carta de Pero Vaz de Caminha e por conseqüência a esquadra de Pedro Álvares Cabral. Ao identificar este como o primeiro herói civilizador do Brasil, Cabral foi alçado ao status de um dos pais da pátria.

Sem o reconhecimento dos brasileiros, os portugueses continuariam a atribuir a Cabral o que lhe coube na partilha dos Descobrimentos, nada. Sua viagem apesar de ter sido um sucesso econômico, mesmo com a perda de diversos navios não foi o suficiente para lhe garantir a lealdade do rei, que após uma briga entre Cabral e Vasco da Gama, aquele foi banido da corte até o fim da vida.

Sem prestígio na corte e desacreditado morreu sem saber o real legado de sua viagem. Se não fosse por D. Pedro II seu túmulo e sua história continuariam esquecidos.

O segundo Pedro que eu escreveria seria o Primeiro, D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal, porém a entrevista abaixo já me tirou este "gostinho".

"O Dom Pedro de Portugal não tem nada a ver com o do Brasil" - Especial 1822 - iG

Espero que tenham gostado dessas peculiaridades históricas.

Obrigada e até o próximo post!

Post saudosista: O Rio de antigamente

 Acabei de ler o livro "1822" do Laurentino Gomes (recomendo!) e novamente terminei com a vontade de ter conhecido o Rio de antigamente. Uma das coisas que mais tenho vontade de ter visto é o Morro do Castelo, implodido em 1921, sob a desculpa que afetava a circulação de ventos no Centro da cidade, bem como facilitava o escoamento da água.


Morro do Castelo em pintura de 1885

Eu sei que essa desculpa de escoamento pelo menos é fajuta, pois estudei na Rua da Assembléia, no que seria o sopé do morro, e a água continua retida ali em dias de temporais como foi o de ontem! Mas reclamações à parte, volto ao assunto: o que dizer de uma cidade que implode seu primeiro núcleo urbano, isto é, o que dizer de uma cidade que implode o seu local de fundação, o marco zero?! Seria como se São Paulo implodisse o pátio do colégio.

Aliás no Morro do Castelo havia um colégio de jesuítas igualzinho àquele encontrado em São Paulo, e como nessa cidade a vida no Rio também começou ali. As populações resolveram habitar as regiões vizinhas ao morro, delimitada por outros morros (Morro de Santo Antônio --- também implodido, onde hoje é a Av. Chile com as sedes da Petrobrás e do BNDES---, Morro de São Bento --- intacto--- e Morro da Conceição --- também intacto, região atrás da Praça Mauá, atrás do edifício "A Noite").

Vista do Morro Santo Antônio em pintura de 1816
A cidade do Rio de Janeiro para quem não conhece é cheia de morros e montanhas e a população portuguesa encontrou aqui condições similares das que existiam em Lisboa e em Salvador, ou seja, casas construídas nas partes altas e baixas da cidade. Entretanto, o Rio tinha uma particularidade era uma grande várzea (planície coberta de rios e lagoas)  espremida entre as montanhas do Maciço da Tijuca e o Oceano Atlântico. Construir uma cidade ali, de fato exigiu certo esforço de engenharia: rios foram canalizados, lagoas foram drenadas e aterradas e o mar foi recuado.

Fico imaginando como seria pegar um barco ou uma balsa para ir do Centro (no final da Av. Rio Branco) e atravessar a Lagoa do Boqueirão (atualmente Passeio Público) até a Glória; ver do Outeiro da Glória o mar batendo logo abaixo da Igreja, onde é a Av. Infante D. Henrique, atual Aterro do Flamengo; ver da Igreja de Santa Luzia a Praia de Santa Luzia, fazendo daquela uma igrejinha à beira do mar; ver do Chapéu do Corcovado o grande areal que era Copacabana; ver os palacetes dos ricos e poderosos no Flamengo e em Botafogo, ver a foz do Rio da Carioca em seu estado e localização originais; ver a Quinta da Boa Vista das pinturas do século XIX, um palácio praticamente isolado do resto da cidade; ver as chácaras nas encostas dos morros na Tijuca e no Cosme Velho; ver o Aqueduto da Carioca efetivamente funcionando, levando água do Morro de Santo Antônio para o Morro do Desterro, atual bairro e morro de Santa Teresa; ver a planície de Jacarepaguá repleta de engenhos de açúcar; andar pela Estrada Real de Santa Cruz que ligava o Centro (Paço Imperial) até a Real Fazenda de Santa Cruz (atualmente quartel do Exército--- Batalhão de Villagran Cabrita--- no bairro de Santa Cruz).

Morro de Santa Teresa, aqueduto da Carioca, Lagoa do Boqueirão em pintura do século XVIII

Vista do Morro do Mirante, vê-se ao fundo a Real Fazenda de Santa Cruz
Sede da Real Fazenda de Santa Cruz, hoje sede do Batalhão de Engenharia de Villagran Cabrita
Concordo que algumas intervenções foram necessárias, como por exemplo o reflorestamento do Maciço da Tijuca, devastado pelas plantações de café, que fizeram com que os verões no Rio tornassem-se mais insuportáveis do que já eram, sem água e cheio de doenças.

Porém sinto falta deste Rio que eu não conheci, nem ninguém que eu conheça pode me contar que viu o que está relacionado acima. Imagino que habitantes de outras cidades grandes como Rio tenham essa mesma sensação saudosista. Entretanto acho que os cariocas deixaram por tempo demais essas intervenções ocorrerem. Hoje vivem numa cidade irreconhecível aos olhos de quem viveu há 100 anos atrás. Uma cidade que bem poderia ser um grande canteiro arqueológico.

Aliás, estou muito interessada em ver o que a Prefeitura vai achar ao escavar o "mergulhão" que dará lugar ao atual Elevado da Perimetral. Escavará as áreas de ocupação mais antiga na cidade do Rio de Janeiro: onde era o Morro do Castelo, imediações do Morro da Conceição e do Morro de São Bento e do antigo Porto do Vallongo, o maior porto de desembarque de escravos das Américas.

Muito ainda será descoberto desse Rio antigo, mais coisa para eu sentir saudades.

Obrigada e até o próximo post!

sábado, 23 de abril de 2011

Post de casamento: Curiosidades históricas

Gales, neto de Elizabeth, rainha da Inglaterra, conheceu Kate e irá se casar com ela. Seu irmão Harry participará da cerimônia. Os pombinhos depois de casados irão viver no País de Gales. O leitor deve estar achando que eu estou falando do casamento do Príncipe William de Gales e de Kate Middleton. Na verdade estou recontando um momento que ocorreu há 510 anos atrás em 1501, por ocasião do casamento do Príncipe Arthur de Gales e de Catarina de Aragão.

Arthur era o irmão mais velho daquele que viria a ser um dos reis mais conhecidos da Inglaterra, que dirá do mundo, Henrique VIII, o irmão Harry que participou da cerimônia acima mencionada. É engraçado, pelo menos para mim, como a História está cheia de coincidências irônicas. Para saciar a curiosidade de alguns segue a lista das ironias que cercam o casamento da próxima sexta-feira:
- O segundo nome de William é Arthur: William Arthur Philip Louis Mountbatten Windsor;
- Catarina de Aragão era chamada por Arthur e Henrique de Kate (apelido de Catarina em inglês), assim como Kate Middleton, nascida Catherine Middleton;
- A avó de ambos os noivos se chamava Elizabeth e era Rainha da Inglaterra, a de William é a Rainha Elizabeth II e a de Arthur era Elizabeth de Woodville, casada com o Rei da Inglaterra Eduardo IV;
- Ambos descendem do "ramo York", isto é, William sendo bisneto do Rei George VI (o gago do "Discurso do Rei"), o qual era Duque de York antes de tornar-se rei, acaba por descender deste ramo. Já Arthur era neto de Eduardo IV, o qual também havia sido Duque de York antes de virar rei, tem-se aqui a mesma situação;
- Ambos possuem irmãos mais novos que se chamam Henrique (Henry ou Harry em inglês);
- Ambos moraram em Gales depois do casamento: Tecnicamente no caso de Arthur, ele morou no Castelo de Ludlow na fronteira com o País de Gales.

Agora uma coincidência cruzada: William nasceu em junho e Harry em setembro; Arthur nasceu em setembro e Henrique em junho.

Espero que tenham gostado deste pequeno post de curiosidades! Felicidades aos noivos! Que tenham mais sorte do que aqueles de 1501.

Convido aos leitores caso achem mais coincidências sobre este casamento ou outros fatos da História que comentem!

Obrigada e até o próximo post!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Um post sobre Post e Nova Iorque: Parte da minha História

Tenho uma amiga, que ao ler este post vai se identificar imediatamente, simplesmente ama Nova Iorque. Ama a cidade, filmes sobre a cidade, seriados sobre a cidade, etc. Não me sinto assim por essa metrópole em particular, devo confessar que meu gosto recai sobre Florença na Itália (tirando obviamente da disputa por afeição, a cidade na qual nasci), mas isso não vem ao caso.

O que gosto sobre Nova Iorque tem a ver com seus laços com o Brasil. Não estou me referindo a Little Brazil, ou ao fato de milhões de brasileiros irem para lá todos os anos às compras. Refiro-me à invasão holandesa, que tem a ver com parte da minha História.

Começando "pelo começo": Para quem não sabe em 1580 teve início a chamada União Ibérica, a junção das coroas de Portugal e Espanha sob um mesmo rei, Felipe II. Algo que durante anos os portugueses temeram finalmente ocorreu com a morte do Cardeal-Rei Henrique, o qual, como membro --- correto--- do clero não deixou herdeiros em Janeiro daquele ano. O Cardeal sucedera dois anos antes ao seu sobrinho- neto o Rei D. Sebastião, morto na famosa batalha de Álcacer-Qibir no Marrocos aos 24 anos.

D. Sebastião I de Portugal

Felipe II de Espanha
A união com a Espanha significava que o então Império Colonial Espanhol, já o maior do mundo, acabava de ficar ainda maior com a adição das colônias de seu maior rival e concorrente. O Império ia além da Espanha e suas colônias nas Américas, na África e na Ásia possuía também territórios na Europa como Milão, Córsega, Nápoles, Sardenha, Roussillon, Franche-Comte e Países Baixos. Estes últimos havia alguns anos lutavam pela sua independência que somente veio em 1581 com a deposição de Filipe II como rei dos Países Baixos (esta independência abrangeu somente o que hoje é mais ou menos a Holanda).

Com a independência da Holanda, a Espanha havia ganho um novo rival colonialista (França e Inglaterra não eram rivais à altura do poder espanhol na época, porém seus corsários pilhavam os navios espanhóis regularmente), que estava disposto a investir pesado neste empreendimento, criando inclusive uma empresa para tanto, a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. Os holandeses tinham um diferencial: seu país tornara-se pólo de atração de cientistas, pensadores e navegadores todos fugitivos da Inquisição Espanhola que agora espalhava seu terror por Portugal e seus domínios. Isto na prática significava que a tecnologia e o dinheiro que antes levaram portugueses e espanhóis às suas colônias faria o mesmo pelos os holandeses. Ponto para a tolerância religiosa!

Depois de uma tentativa desastrosa de conquistar a Bahia, os holandeses invadiram  com sucesso  a província mais rica do Brasil, Pernambuco em 1630. Em 1637 desembarca no Recife o governador da Nova Holanda, Maurício de Nassau. Reproduzindo a política de tolerância religiosa holandesa, judeus, luteranos, calvinistas, católicos, todos podiam exercer seu credo sem medo de repressões. A primeira sinagoga em solo americano foi construída no Recife enquanto Nassau era governador.

Maurício de Nassau
O governo holandês trouxe reformas para o Recife e para as demais cidades da província que abrangia os estados de Pernambuco, Paraíba, Sergipe, Alagoas, Ceará e Rio Grande do Norte. Nassau trouxe em sua comitiva o pintor Frans Post, desconhecido em seu país natal, porém talentoso. Post assim como Eckhout seu conterrâneo e também pintor, retrataram a vida, as paisagens e os habitantes da província de Pernambuco e é nesse ponto que parte da minha História e a de Nova Iorque cruzam-se.

Post passou 7 anos em Pernambuco, costumava pintar pequenas telas, com pequenas figuras que imediatamente atraíam a atenção do espectador. Tinha como função principal documentar não só a vida na Nova Holanda, como também elaborar mapas. Dentre seus quadros há um no qual retratou uma igreja e seu mosteiro situados na cidade de Igarassu em Pernambuco. Esta pequena igreja chama-se Igreja de São Cosme e São Damião e foi fundada em 1535, está "de pé" (precisa de reformas urgentes) e em funcionamento até hoje. É, portanto, a Igreja mais antiga do Brasil em funcionamento.

Igreja e Mosteiro de São Cosme e São Damião em Igarassu de Frans Post

Essa igreja tem um significado especial para mim, pois meu avô, que nasceu em Igarassu, foi batizado lá. Aliás um dos meus sobrenomes (o que me foi dado por este avô) pode ter ou não raízes holandesas (talvez um holandês que não quis ir embora e resolveu "abrasileirar-se"). E esta pintura de Post, que está no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, me dá a sensação de fazer parte da História. Afinal há 400 anos a igreja que iria batizar meu avô e possivelmente alguns de meus demais ancestrais, já estava de pé e era retratada fielmente por um estrangeiro. Isto é, tenho o sentimento de que ao ver este quadro a minha História torna-se parte da História.

Voltando à "Big Apple", em 1640 terminava a União Ibérica com a ascensão ao trono do Rei D. João IV, Duque de Bragança, o qual fundou a Dinastia dos Bragança tão conhecida por nós brasileiros. A Espanha estava envolvida com a Guerra dos Trinta Anos na Europa, o que significava que ela não tinha dinheiro e exército suficiente para conter as revoltas em Portugal e em Pernambuco.

Ao assumir o controle de seu país novamente os portugueses se apressaram para reconquistar sua colônia perdida. Afinal Pernambuco ainda era a mais rica província do Império português no Brasil. Os senhores de engenho pernambucanos também viram na ascensão do novo rei português uma oportunidade de lutar contra o domínio holandês. Apesar da boa relação durante alguns anos entre dominadores e dominados (holandeses e senhores de engenho), entre 1644 e 1649 esta mesma relação "azedou" devido ao pagamento de altos impostos ao governo holandês, bem como da dívida contraída pelos latifundiários perante à Cia. Holandesa das Índias Ocidentais e a saída de Nassau como governador da província.

Nesse ínterim Portugal mandava tropas para ajudar os rebeldes, bem como negociava diplomaticamente com os holandeses a entrega de Pernambuco mediante o pagamento de uma pesada indenização. Em 1654 a Holanda entregou definitivamente o Brasil. Alguns colonos que saíram daqui fundaram uma nova colônia na Ilha de Manhattan, a Nova Amsterdã. Ela tornaria-se a cidade de Nova Iorque.

Obrigada! Até o próximo post!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Noção de nação: "Nunca antes na História deste país..."

Remeto-me às palavras do nosso ex-Presidente da República para falar de uma transformação que ocorreu no Brasil durante os 8 anos de governo dele. Antes de mais nada não sou pró-Lula nem votei nele nas eleições em que ele se candidatou, porém devo deixar minhas convicções políticas de lado para escrever sobre essa transformação.

Ao começar a ler o livro "1822", de Laurentino Gomes tive a idéia de escrever a história de hoje. Como o título do livro já deixa claro, o assunto tratado é a Independência brasileira. Para mim o processo de Independência tem como aspecto mais interessante a construção da nação brasileira, fato que não ocorreu com o mero Grito do Ipiranga, nem muito menos com o reconhecimento pelos demais países como povo independente.





Em 1822 temos o começo da construção do território brasileiro como o conhecemos hoje, processo que somente terminou com a aquisição do Acre entre 1903 e 1909 dos bolivianos e peruanos. É de fato um feito incrível um país de proporções continentais como o Brasil não fragmentar-se em vários pedaços a exemplo da América Espanhola.

Com o começo do Segundo Reinado, após o conturbado período regencial, em que a fragmentação territorial chega às vias de fato, temos o início do processo de unidade nacional, promovendo de Norte a Sul do país a noção de pertencer à mesma nação através da identificação de elementos: língua, território, religião e herança colonial comum. D. Pedro II promoveu a fabricação de um passado glorioso que unia províncias distintas, distantes e rivais em torno dos mesmos ancestrais o indígena pagão ingênuo e o português católico e civilizador. Gradativamente os habitantes do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco, etc, começaram a reconhecer-se como brasileiros, pertencentes a esta nação criada nos trópicos.

 Durante os anos seguintes a República tentou incutir na população brasileira um outro elemento inerente (para alguns) ao conceito de nação, o patriotismo. Desde os slogans mais ofensivos da ditadura militar, como "Brasil, ame-o ou deixe-o", até os desenhos animados da Era Vargas que promoviam as virtudes nacionais como a dança e a alegria, todos tinham como principal objetivo estimular o patriotismo entre os brasileiros. A mesma função teve a Seleção Brasileira de Futebol no governo de Juscelino Kubitschek.


Todavia, somente durante os 8 anos do governo Lula que de fato a população brasileira pôde considerar-se patriótica, tendo "Orgulho de ser brasileira". Aumentos na renda e nos empregos à parte, eu creio que o que mais traduziu este sentimento foram os lançamentos de livros de História nacional que recontam fatos e personagens sob luzes menos preconceituosas (D. João VI e sua excessiva indolência) e menos ilusórias (D. Pedro I, herói destemido da Independência), para mostrar estes personagens como eram: pessoas com qualidades e defeitos com poder de mudar o curso da História e assim o fizeram.

 
Isto é tão verdade que acontecimentos aprendidos  de maneira "blasé" nos bancos de escola durante anos a fio sem o devido tratamento merecido, como por exemplo a vinda da família real para o Brasil ou o próprio grito do Ipiranga ganham uma nova roupagem transformando-se em quase épicos da criação do Estado e nação brasileiros. Transformando-nos em nação única no mundo: a única colônia a receber status de metrópole, único país de língua portuguesa nas Américas, etc. São feitos que antes eram encarados como uma sucessão de acontecimentos históricos sem a menor importância para se tornarem feitos Históricos da Nação Brasileira, comparáveis inclusive à Queda da Bastilha ou à assinatura da Magna Carta, isto é, acontecimentos definidores de um povo.

E daí que não tivemos Idade Média com cavaleiros, Cruzadas e torneios de justa?! Tivemos em compensação guerras entre povos indígenas inclusive por motivos religiosos. Esses mesmos povos faziam intercâmbio de bens e informações com a civilização inca no alto dos Andes muito antes da chegada de Colombo. No Amapá temos o Stonehenge brasileiro, um sítio arqueológico em formato circular chamado de Pedra do Furo, que como seu similar britânico teria a mesma função de marcar acontecimentos astronômicos. Não deixamos a desejar em termos de "mistérios históricos" a nenhum europeu.

Portanto, hoje somos uma nação de fato. Orgulhosa de nosso passado e esperançosa em relação ao futuro. Ficam aqui os votos para que o governo Dilma empenhe-se no investimento em pesquisas históricas e arqueológicas que nos levem a descobrir melhor como viviam os povos nativos antes da chegada dos portugueses.



Obrigada e até o próximo post!

segunda-feira, 14 de março de 2011

Botânica como arte: Flora Brasileira

Desde pequena sou fascinada pelos desenhos, aquarelas, reproduções de plantas. Acho que por isso gosto tanto de Monet, e, principalmente de sua forma de pintar com riqueza de detalhes como a luz incide sobre as flores e folhas em um jardim. Entretanto, isso é assunto para outro post.

Antes de mim outros fascinaram-se também com a riqueza de detalhes contidos ao desenhar ou retratar fielmente uma planta. O Brasil foi e ainda é um dos maiores destinos dos "botânicos-desenhistas de viagem", pessoas preocupadas com a fiel reprodução para fins científicos da flora nativa. Dois dos primeiros fascinados pela flora brasileira foram Carl von Martius e Johann von Spitz, ambos alemães, os quais vieram na comitiva de casamento da futura imperatriz, Leopoldina da Áustria. Sua missão era encontrar e catalogar novas espécies de animais e vegetais brasileiros para aprofundar o estudo sobre eles na Áustria e na Alemanha (Baviera). Desta viagem resultaram alguns livros, sendo dois deles, o "Viagem ao Brasil 1817-1820" e o "Flora Brasiliensis". Estes cientistas catalogaram 9.000 espécies de plantas e animais brasileiros que foram levados para os Museus de Munique e Viena.

O naturalista von Martius desenhou diversas plantas e flores brasileiras, catalogando, inclusive, aquelas para uso medicinal. Seus desenhos hoje encontram-se reunidos no livro acima mencionado: "Flora Brasiliensis", há um site que esquematiza de maneira didática os 15 volumes da obra original (http://florabrasiliensis.cria.org.br/).


Para alguns essas litografias são apenas imagens descritivas, todavia eu as considero uma representação artística da flora brasileira. Outra pessoa que legou ao mundo reproduções artísticas da flora nacional  foi a britânica Margaret Mee. Ela não era cientista de formação, ao contrário do naturalista alemão von Martius, era pintora e desenhista, formada pela Camberwell School of Arts and Crafts de Londres. Ela veio ao Brasil em 1952 com o marido para dar aulas de Arte em uma escola de São Paulo. Foi contratada em 1964 pelo Instituto de Botânica daquela cidade para reproduzir vegetais encontrados na Floresta Amazônica.

Suas reproduções de plantas brasileiras, principalmente as da Amazônia, renderam vários livros e até uma organização a "Margaret Mee Amazon Trust", que tem por objetivo oferecer bolsas de estudos para jovens brasileiros e britânicos que queiram aprofundar-se no estudo da flora da Amazônia.

Ao ver um desenho dela tenho a impressão que seu olhar científico ficou sem foco ao detalhar as nuances encontradas em cada flor, por exemplo. Para mim a artista prevaleceu. O mesmo penso de von Martius,  a exuberância do objeto de seu estudo venceu, tornando-o mero observador do espetáculo que é a flora brasileira. Isto é para mim a botânica como arte.

Obrigada! Até o próximo post!

sexta-feira, 11 de março de 2011

Amazing Grace: Quaresma

Alguns de vocês já devem ter ouvido um hino religioso chamado "Amazing Grace" em filmes americanos ou ingleses, geralmente cantado por um coro de fiéis em igrejas protestantes. A letra fala da salvação da alma através da Graça Divina. (http://www.surfinthespirit.com/music/amazing-grace2.html)

O autor desta música de fato precisava de salvação, pois sua profissão não era das mais cristãs. Seu nome era John Newton, nascido na Inglaterra no século XVIII, e sua profissão era a de traficante de escravos. Para expiar seus pecados tornou-se clérigo anglicano e lutou até o final da vida para ver com que seu erro não pudesse mais ser cometido. Por anos ele conviveu com os seus "20 mil fantasmas africanos", todos negros que não chegaram aos seus destinos finais (plantações de açúcar na Jamaica e demais pontos compradores da costa americana), pois morreram em trânsito de doenças infecciosas, de maus-tratos, em brigas com seus transportadores, etc. Todos tiveram o mesmo destino: foram jogados ao mar, alguns ainda vivos inclusive.

Relatos sobre o tráfico de escravos são imensamente conhecidos como por exemplo o poema de Castro Alves, "Navio Negreiro". Os cantos IV e V deste poema, para mim, são os piores em termos descritivos, pois relatam a miséria e a morte destas vítimas indefesas (http://www.culturabrasil.pro.br/navionegreiro.htm). Outro relato é a pintura de Rugendas ("Porão de um navio negreiro").


O próprio Newton escreveu o seu relato em "Thoughts upon the African slave trade" (http://dlxs.library.cornell.edu/cgi/t/text/pageviewer-idx
c=mayantislavery;idno=21874801;view=image;seq=1).

Não é à toa, diante destes exemplos, que um traficante de escravos como Newton iria querer expiar todos os seus pecados. Todavia, segundo a tradição cristã, para haver a expiação é preciso antes haver o arrependimento e este é um dos motes para a existência da Quaresma cristã: 40 dias de arrependimento para haver a expiação dos pecados cometidos e, celebrar a Semana Santa novamente "puro de coração".

Hoje em dia a Quaresma perdeu completamente seu sentido, assim como o Carnaval. Este seria a época do ano em que as pessoas poderiam cometer certos excessos com autorização da Igreja, sem que houvesse a necessidade de represálias imediatas. Nos 40 dias que se seguiam ao Carnaval as pessoas deveriam entrar em jejum introspectivo, pensando no que fizeram e se arrependendo de seus pecados. Abster-se de alimentação seria a forma de expiar estes pecados cometidos.

Diante do fato que, atualmente, ninguém faz isso, será que deixamos de nos preocupar com a salvação das nossas almas, ao contrário de Newton? Será que como Fausto nos deixamos levar pela eterna insatisfação e nos vendemos à Mefistófeles? Creio que este conflito matéria e espírito continuará a nos interessar e principalmente, a nos dividir: aqueles interessados em Wall Street e aqueles interessados no Reino dos Céus.

Obrigada e até o próximo post!

terça-feira, 8 de março de 2011

Post de Carnaval: Alegorias

Devo confessar que não gosto de Carnaval. O conceito da festa em si é interessante, mas o modo como as pessoas a comemoram é que me deixa um pouco desestimulada para "pular Carnaval". Porém há um aspecto da festa, ou melhor dizendo, uma forma de celebrar esta festa que me fascina e me encanta todos os anos: o desfile das Escolas de Samba. Prefiro as do Rio de Janeiro, não só por ser minha cidade, mas também porque o nível de luxo e investimento é maior.

O leitor deve estar se perguntando, por que uma pessoa que não gosta de Carnaval, gosta logo dos desfiles? Por causa das alegorias. A cada ano os carnavalescos das escolas escolhem um enredo e trabalham o resto do ano no desenvolvimento dele, através de alegorias e sambas-enredo. Para um povo que não possui um grau de escolaridade alto em sua grande maioria, ver os desfiles das Escolas de Samba, seja pela televisão ou ao vivo, permite que este povo se eduque sobre determinado enredo (Quem não se lembra do Salgueiro e seu Ita para o Norte?!) e, melhor ainda, permite que haja o exercício do senso crítico artístico, seja  através do julgamento do luxo das alegorias ou até mesmo sobre a interpretação sobre o enredo (Quem não se perguntou ao ver uma fantasia, uma ala ou até um carro alegórico, "o que isso tem a ver com o tema?").
Os desfiles das Escolas de Samba transformam o povo brasileiro em críticos de arte de primeira categoria, ainda que apenas durante os dias de folia.

Após este breve parágrafo sobre uma parte do Carnaval brasileiro devo voltar ao tema-título deste post: Alegorias. Como os carnavalesco das escolas outros artistas já se inspiraram para fazer alegorias sobre os mais diversos enredos. Essas alegorias permitiam que determinado povo se educasse sobre temas diferentes, sendo um dos mais prolíficos artistas Sandro Botticelli, pintor do Renascimento Italiano.

Detalhes sobre a vida dele ainda são obscuros, porém Botticelli é mais conhecido por sua obra-prima: O nascimento da Vênus. Para quem não se lembra é o quadro que retrata uma mulher nua em cima de uma concha, que bóia sobre a água, com cabelos esvoaçantes.


O artista possui diversas obras alegóricas, todavia a mais conhecida é a "Alegoria da Primavera", na qual o pintor retrata a deusa greco-romana Vênus e seus súditos e outros deuses num ambiente campestre cercado de árvores e flores o que remete o espectador da pintura a uma cena primaveril, ou seja, de encontro à noção de primavera que todos nós temos em nosso subconsciente.

A primavera, como estação do ano, representa para os povos do Hemisfério Norte o recomeço da vida, após o longo e tenebroso inverno que "matou" todas as flores e frutos dos campos. O quadro representa alegoricamente a vida, isto é, o renascimento da vida, através da deusa Flora que espalha flores pelo chão ao passar, através do Cupido a disparar suas flechadas formando um novo casal, através da dança das Três Graças que celebram este recomeço, através da deusa Vênus no centro do quadro emanando amor para os que a cercam.


Creio que a "Alegoria da Primavera" de Sandro de Botticelli tem o mesmo efeito para os eruditos e experts em História da Arte que o Carnaval e, em especial os desfiles das Escolas de Samba, tem para o povo brasileiro, educar sobre recomeço, sobre vida, através do Amor e da Arte. Afinal, quem nunca disse que o ano no Brasil só começa depois do Carnaval?

Obrigada! Até o próximo post!

Primeiro Post: A primeira vez que li um guia

Acho que todos os blogs começam com este título ("Primeiro Post")...Defendo-o, pois creio que é um momento importante na vida de alguém começar a compartilhar seus pensamentos com outras pessoas, mesmo que usando um meio tão impessoal quanto à internet. Todavia, sei que quando começar a ler os comentários (plural, porque estou esperançosa que será mais de um leitor!) não será mais tão impessoal assim, inclusive considerando que todos os meus leitores serão pessoas que me conhecem bem, aí mesmo que a impessoalidade irá por água abaixo.

Li guias sobre como começar um blog (sim, acredite para mim não foi fácil entrar nesse mundo...) e um deles mencionou a questão principal: Escreva sempre sobre o que você gosta. Isso foi primordial, pois tinha em mente escrever sobre bolsas (pausa para risos do leitor), --- achava que não existiam blogs em português que de fato comentassem os lançamentos, as tradicionais maisons e seus designers, etc. Entretanto, não iria ter muito assunto, porque por mais que eu goste de bolsas eu não sei muito sobre elas, sei apenas o que gosto e o que não gosto.

Decidi por fim seguir o conselho do guia escrever sobre o que gosto. Minhas paixões (leia-se acadêmicas) são: História e Artes. Dediquei e ainda dedico a maior parte da minha vida ao estudo desses dois assuntos. Minha estante é cheia de livros sobre ambos os assuntos. Partindo dessa premissa, sei que poderei escrever sobre coisas diferentes a cada dia. Daí o nome do blog: "Uma história todo dia".

Este blog tratará sobre pessoas basicamente, sejam elas vivas, mortas, pintores, poetas, generais, políticos, etc. Não desmerecendo as enciclopédias, mas quero dar o meu "input" ao relatar vidas e situações. Espero que você leitor me acompanhe nessa jornada.

Obrigada! Até o próximo post!