segunda-feira, 14 de março de 2011

Botânica como arte: Flora Brasileira

Desde pequena sou fascinada pelos desenhos, aquarelas, reproduções de plantas. Acho que por isso gosto tanto de Monet, e, principalmente de sua forma de pintar com riqueza de detalhes como a luz incide sobre as flores e folhas em um jardim. Entretanto, isso é assunto para outro post.

Antes de mim outros fascinaram-se também com a riqueza de detalhes contidos ao desenhar ou retratar fielmente uma planta. O Brasil foi e ainda é um dos maiores destinos dos "botânicos-desenhistas de viagem", pessoas preocupadas com a fiel reprodução para fins científicos da flora nativa. Dois dos primeiros fascinados pela flora brasileira foram Carl von Martius e Johann von Spitz, ambos alemães, os quais vieram na comitiva de casamento da futura imperatriz, Leopoldina da Áustria. Sua missão era encontrar e catalogar novas espécies de animais e vegetais brasileiros para aprofundar o estudo sobre eles na Áustria e na Alemanha (Baviera). Desta viagem resultaram alguns livros, sendo dois deles, o "Viagem ao Brasil 1817-1820" e o "Flora Brasiliensis". Estes cientistas catalogaram 9.000 espécies de plantas e animais brasileiros que foram levados para os Museus de Munique e Viena.

O naturalista von Martius desenhou diversas plantas e flores brasileiras, catalogando, inclusive, aquelas para uso medicinal. Seus desenhos hoje encontram-se reunidos no livro acima mencionado: "Flora Brasiliensis", há um site que esquematiza de maneira didática os 15 volumes da obra original (http://florabrasiliensis.cria.org.br/).


Para alguns essas litografias são apenas imagens descritivas, todavia eu as considero uma representação artística da flora brasileira. Outra pessoa que legou ao mundo reproduções artísticas da flora nacional  foi a britânica Margaret Mee. Ela não era cientista de formação, ao contrário do naturalista alemão von Martius, era pintora e desenhista, formada pela Camberwell School of Arts and Crafts de Londres. Ela veio ao Brasil em 1952 com o marido para dar aulas de Arte em uma escola de São Paulo. Foi contratada em 1964 pelo Instituto de Botânica daquela cidade para reproduzir vegetais encontrados na Floresta Amazônica.

Suas reproduções de plantas brasileiras, principalmente as da Amazônia, renderam vários livros e até uma organização a "Margaret Mee Amazon Trust", que tem por objetivo oferecer bolsas de estudos para jovens brasileiros e britânicos que queiram aprofundar-se no estudo da flora da Amazônia.

Ao ver um desenho dela tenho a impressão que seu olhar científico ficou sem foco ao detalhar as nuances encontradas em cada flor, por exemplo. Para mim a artista prevaleceu. O mesmo penso de von Martius,  a exuberância do objeto de seu estudo venceu, tornando-o mero observador do espetáculo que é a flora brasileira. Isto é para mim a botânica como arte.

Obrigada! Até o próximo post!

sexta-feira, 11 de março de 2011

Amazing Grace: Quaresma

Alguns de vocês já devem ter ouvido um hino religioso chamado "Amazing Grace" em filmes americanos ou ingleses, geralmente cantado por um coro de fiéis em igrejas protestantes. A letra fala da salvação da alma através da Graça Divina. (http://www.surfinthespirit.com/music/amazing-grace2.html)

O autor desta música de fato precisava de salvação, pois sua profissão não era das mais cristãs. Seu nome era John Newton, nascido na Inglaterra no século XVIII, e sua profissão era a de traficante de escravos. Para expiar seus pecados tornou-se clérigo anglicano e lutou até o final da vida para ver com que seu erro não pudesse mais ser cometido. Por anos ele conviveu com os seus "20 mil fantasmas africanos", todos negros que não chegaram aos seus destinos finais (plantações de açúcar na Jamaica e demais pontos compradores da costa americana), pois morreram em trânsito de doenças infecciosas, de maus-tratos, em brigas com seus transportadores, etc. Todos tiveram o mesmo destino: foram jogados ao mar, alguns ainda vivos inclusive.

Relatos sobre o tráfico de escravos são imensamente conhecidos como por exemplo o poema de Castro Alves, "Navio Negreiro". Os cantos IV e V deste poema, para mim, são os piores em termos descritivos, pois relatam a miséria e a morte destas vítimas indefesas (http://www.culturabrasil.pro.br/navionegreiro.htm). Outro relato é a pintura de Rugendas ("Porão de um navio negreiro").


O próprio Newton escreveu o seu relato em "Thoughts upon the African slave trade" (http://dlxs.library.cornell.edu/cgi/t/text/pageviewer-idx
c=mayantislavery;idno=21874801;view=image;seq=1).

Não é à toa, diante destes exemplos, que um traficante de escravos como Newton iria querer expiar todos os seus pecados. Todavia, segundo a tradição cristã, para haver a expiação é preciso antes haver o arrependimento e este é um dos motes para a existência da Quaresma cristã: 40 dias de arrependimento para haver a expiação dos pecados cometidos e, celebrar a Semana Santa novamente "puro de coração".

Hoje em dia a Quaresma perdeu completamente seu sentido, assim como o Carnaval. Este seria a época do ano em que as pessoas poderiam cometer certos excessos com autorização da Igreja, sem que houvesse a necessidade de represálias imediatas. Nos 40 dias que se seguiam ao Carnaval as pessoas deveriam entrar em jejum introspectivo, pensando no que fizeram e se arrependendo de seus pecados. Abster-se de alimentação seria a forma de expiar estes pecados cometidos.

Diante do fato que, atualmente, ninguém faz isso, será que deixamos de nos preocupar com a salvação das nossas almas, ao contrário de Newton? Será que como Fausto nos deixamos levar pela eterna insatisfação e nos vendemos à Mefistófeles? Creio que este conflito matéria e espírito continuará a nos interessar e principalmente, a nos dividir: aqueles interessados em Wall Street e aqueles interessados no Reino dos Céus.

Obrigada e até o próximo post!

terça-feira, 8 de março de 2011

Post de Carnaval: Alegorias

Devo confessar que não gosto de Carnaval. O conceito da festa em si é interessante, mas o modo como as pessoas a comemoram é que me deixa um pouco desestimulada para "pular Carnaval". Porém há um aspecto da festa, ou melhor dizendo, uma forma de celebrar esta festa que me fascina e me encanta todos os anos: o desfile das Escolas de Samba. Prefiro as do Rio de Janeiro, não só por ser minha cidade, mas também porque o nível de luxo e investimento é maior.

O leitor deve estar se perguntando, por que uma pessoa que não gosta de Carnaval, gosta logo dos desfiles? Por causa das alegorias. A cada ano os carnavalescos das escolas escolhem um enredo e trabalham o resto do ano no desenvolvimento dele, através de alegorias e sambas-enredo. Para um povo que não possui um grau de escolaridade alto em sua grande maioria, ver os desfiles das Escolas de Samba, seja pela televisão ou ao vivo, permite que este povo se eduque sobre determinado enredo (Quem não se lembra do Salgueiro e seu Ita para o Norte?!) e, melhor ainda, permite que haja o exercício do senso crítico artístico, seja  através do julgamento do luxo das alegorias ou até mesmo sobre a interpretação sobre o enredo (Quem não se perguntou ao ver uma fantasia, uma ala ou até um carro alegórico, "o que isso tem a ver com o tema?").
Os desfiles das Escolas de Samba transformam o povo brasileiro em críticos de arte de primeira categoria, ainda que apenas durante os dias de folia.

Após este breve parágrafo sobre uma parte do Carnaval brasileiro devo voltar ao tema-título deste post: Alegorias. Como os carnavalesco das escolas outros artistas já se inspiraram para fazer alegorias sobre os mais diversos enredos. Essas alegorias permitiam que determinado povo se educasse sobre temas diferentes, sendo um dos mais prolíficos artistas Sandro Botticelli, pintor do Renascimento Italiano.

Detalhes sobre a vida dele ainda são obscuros, porém Botticelli é mais conhecido por sua obra-prima: O nascimento da Vênus. Para quem não se lembra é o quadro que retrata uma mulher nua em cima de uma concha, que bóia sobre a água, com cabelos esvoaçantes.


O artista possui diversas obras alegóricas, todavia a mais conhecida é a "Alegoria da Primavera", na qual o pintor retrata a deusa greco-romana Vênus e seus súditos e outros deuses num ambiente campestre cercado de árvores e flores o que remete o espectador da pintura a uma cena primaveril, ou seja, de encontro à noção de primavera que todos nós temos em nosso subconsciente.

A primavera, como estação do ano, representa para os povos do Hemisfério Norte o recomeço da vida, após o longo e tenebroso inverno que "matou" todas as flores e frutos dos campos. O quadro representa alegoricamente a vida, isto é, o renascimento da vida, através da deusa Flora que espalha flores pelo chão ao passar, através do Cupido a disparar suas flechadas formando um novo casal, através da dança das Três Graças que celebram este recomeço, através da deusa Vênus no centro do quadro emanando amor para os que a cercam.


Creio que a "Alegoria da Primavera" de Sandro de Botticelli tem o mesmo efeito para os eruditos e experts em História da Arte que o Carnaval e, em especial os desfiles das Escolas de Samba, tem para o povo brasileiro, educar sobre recomeço, sobre vida, através do Amor e da Arte. Afinal, quem nunca disse que o ano no Brasil só começa depois do Carnaval?

Obrigada! Até o próximo post!

Primeiro Post: A primeira vez que li um guia

Acho que todos os blogs começam com este título ("Primeiro Post")...Defendo-o, pois creio que é um momento importante na vida de alguém começar a compartilhar seus pensamentos com outras pessoas, mesmo que usando um meio tão impessoal quanto à internet. Todavia, sei que quando começar a ler os comentários (plural, porque estou esperançosa que será mais de um leitor!) não será mais tão impessoal assim, inclusive considerando que todos os meus leitores serão pessoas que me conhecem bem, aí mesmo que a impessoalidade irá por água abaixo.

Li guias sobre como começar um blog (sim, acredite para mim não foi fácil entrar nesse mundo...) e um deles mencionou a questão principal: Escreva sempre sobre o que você gosta. Isso foi primordial, pois tinha em mente escrever sobre bolsas (pausa para risos do leitor), --- achava que não existiam blogs em português que de fato comentassem os lançamentos, as tradicionais maisons e seus designers, etc. Entretanto, não iria ter muito assunto, porque por mais que eu goste de bolsas eu não sei muito sobre elas, sei apenas o que gosto e o que não gosto.

Decidi por fim seguir o conselho do guia escrever sobre o que gosto. Minhas paixões (leia-se acadêmicas) são: História e Artes. Dediquei e ainda dedico a maior parte da minha vida ao estudo desses dois assuntos. Minha estante é cheia de livros sobre ambos os assuntos. Partindo dessa premissa, sei que poderei escrever sobre coisas diferentes a cada dia. Daí o nome do blog: "Uma história todo dia".

Este blog tratará sobre pessoas basicamente, sejam elas vivas, mortas, pintores, poetas, generais, políticos, etc. Não desmerecendo as enciclopédias, mas quero dar o meu "input" ao relatar vidas e situações. Espero que você leitor me acompanhe nessa jornada.

Obrigada! Até o próximo post!