domingo, 1 de maio de 2011

Mais um post sobre o casamento real: A família

Casamentos são festas para agregar a família como um todo. É uma celebração que visa dar boas-vindas àquela nova pessoa que entra no seio familiar e a união de duas famílias, as quais com o nascimento de herdeiros serão uma só.

Muito se falou na sexta-feira que dignatários de outros países não foram convidados para celebração. Somente membros da realeza européia e amigos próximos das famílias. Eu não vi a lista, mas imagino que um sultão e um sheik à parte, TODOS os monarcas, reinantes ou não, presentes ao casamento pertencem à mesma família.

Tudo começou há um pouco mais de 200 anos atrás. Um plano arquitetado com o simples objetivo de prevenir que outro Napoleão surgisse e engalfinhasse a Europa toda em uma nova guerra. O raciocínio, já antigo naquela época, consistia em colocar parentes sanguíneos em tronos diversos e até rivais da Europa, com o objetivo de trazer a discussão diplomática para o seio familiar, partindo do pressuposto que a família é mais importante do que os interesses de Estado.

Isso ficou bem exposto quando em meados dos anos 50 falou-se da volta da Grã-Duquesa Anastácia da Rússia, que era considerada como viva pelos anti-comunistas, isto é, uma relíquia supostamente viva do esplendor da corte dos Romanov. Anastácia foi de fato assassinada junto com seus pais e irmãos em 1918, fato este comprovado pela exumação dos corpos, encontrados numa floresta da Sibéria, e eventual realização de testes de DNA no final da década passada. Porém volto ao tema: em meados dos anos 50 apareceu uma sueca com nome de Anna Anderson que se dizia ser a Grã-Duquesa que havia perdido e recuperado sua memória,  o que fez com que muitos acreditassem na história dela. Muitos, mas não todos. O tio-avô do noivo mais comentado do momento, irmão do Príncipe Philip, chamado de Louis, Lord Mountbatten foi chamado para comentar o assunto da volta de Anastácia na figura de Anna Anderson. Ele foi categórico: "Ela não é minha prima, se fosse eu saberia".

O que Lord Mountbatten quis enfatizar é que a família saberia se um membro de seu seio escapou da carnificina produzida pela Revolução Bolchevique de outubro de 1917. Fato que infelizmente não ocorreu. Aliás, o Czar Nicolau II, primo do Rei George V do Reino Unido, pensou até o último minuto que o primo poderoso iria salvá-lo de alguma forma. Para o Rei só restou a amargura da omissão na ação e um país a reconstruir depois de uma guerra mundial (o Reino Unido não teve guerra em seu território, porém viu 2,19% de sua população morta nas trincheiras européias).

A família de Lord Mountbatten chama-se Saxe-Coburgo-Gotha. Nome de um ducado ínfimo na atual Alemanha. O projeto começou tímido porém ousado. Em 1796 a irmã mais velha dessa família (que na época se chamava Saxe-Coburgo-Saalfeld), Juliana, casou-se com o Grão-Duque da Rússia Constantino, irmão do czar da Rússia. Desse casamento não houve herdeiros, porém houve influências. O irmão mais novo dela, Leopoldo, tornou-se um favorito na corte russa. Sendo incluído nas fileiras militares como coronel, ainda com 6 anos de idade. Sem ter perspectivas de assumir o ducado de seu pai (por ser o irmão mais novo), ele teve que "dar um rumo à sua vida", e foi o que fez, com a aproximação de Napoleão, ele tornou sua nomeação de coronel efetiva e começou a traçar sua carreira militar.

Entre as idas e vindas da guerra ele conheceu não só o próprio Napoleão, como também o Príncipe Regente do Reino Unido. Este era filho do famoso Rei George III, que perdeu as 13 colônias (agora EUA), e ficou louco ("As loucuras do Rei George" retrata isso). O Príncipe Regente tinha uma filha, Carlota, que estava comprometida com o Príncipe da Holanda, Guilherme. Entretanto, ela não queria se casar com ele (havia boatos de que ele era bissexual, além de bêbado), pois queria levar uma vida sem escândalos--- escândalos na família real britânica não são um fenômeno do último século, a mídia tinha um prato cheio com o casamento falido dos pais de Carlota. Além do mais um casamento com o futuro Rei da Holanda implicava em passar 6 meses do ano lá e os outros 6 em Londres, o que ela não queria terminantemente. O czar da Rússia, Alexandre, sabendo que a princesa queria no final das contas casar-se com alguém adequado e por amor e, principalmente, querendo aliar a poderosa marinha mercante holandesa à marinha de guerra russa (ainda em construção), pensou numa saída: apresentaria Leopoldo à Carlota, para que Guilherme ficasse livre para casar com a irmã, Anna.

O que aconteceu? Carlota e Leopoldo casaram-se em 2 de maio de 1816 e Guilherme e Anna em 21 de fevereiro do mesmo ano. Em 1817 Carlota morreu de parto e Leopoldo perdeu seu "rumo na vida". Entretanto, seu sogro e os parlamentares britânicos, que gostavam dele, o consideraram para assumir um trono de um Estado recém-criado para servir de obstáculo entre a França e a Holanda, a Bélgica. Em 1831 Leopoldo se tornou Rei dos belgas e começou uma dinastia, a de Saxe-Coburgo-Gotha, que perdura no trono até hoje. Porém bem antes disso, Leopoldo conseguiu a vitória suprema para colocar sua família no grau de relevância das realezas européias: teve uma sobrinha e um sobrinho.

Com a morte de Carlota, a única herdeira legítima do trono britânico, houve uma "corrida" dos tios dela para casarem-se e terem herdeiros legítimos (pasmem: todos estes tios eram homens de meia-idade que nunca tiveram um relacionamento oficial, somente amantes e concubinas). Um desses tios casou-se com a irmã de Leopoldo; Eduardo de Kent casou-se em 1818 com Vitória de Leiningen, uma viúva alemã pobre com dois filhos. Desse casamento nasceu em 24 de maio de 1819 "A Sobrinha": Alexandrina Vitória, que a partir de 1837 seria conhecida como Rainha Vitória, a monarca que mais tempo reinou no Reino Unido, 64 anos.

No mesmo ano de nascimento da sobrinha, em agosto, nasceu o sobrinho: Alberto. Nasceu na mesma cidadezinha que Leopoldo nasceu, Coburgo na Alemanha, então capital do ducado de Saxe-Coburgo- Gotha. Como os primos de primeiro grau nasceram no mesmo ano e, como Leopoldo, Alberto era o irmão mais novo e não assumiria o ducado do pai, ele deveria "dar um rumo à sua vida" casando-se com sua prima inglesa. O casamento aconteceu em 10 de fevereiro de 1840. Desse casamento nasceram nove filhos e estes nove filhos casaram-se com diversos monarcas, príncipes, princesas, imperadores estrangeiros e tiveram filhos que também casariam-se com diversos monarcas, etc.

O fim da história: Os descendentes dos Coburgo, como é chamada a família acima mencionada, ocupam atualmente os tronos de Reino Unido, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Noruega, Suécia, Espanha. Ocuparam no passado também tronos que não existem mais como: México, Rússia, Alemanha, França, Portugal, Grécia, Bulgária e até do Brasil ( a Princesa Isabel foi casada com o Conde D'Eu que pertencia via linha materna à mesma família). Ocupam também a chefia de casas nobres que apesar de não mais governarem nada, ainda tem o "sangue azul", como Hannover, entre outras.

Agora deu para entender o por quê de só haver gente da família no casamento do século, né?! O plano de evitar guerras com casamentos de fato falhou, pois desde que os Coburgo assumiram os seus devidos tronos o mundo passou por diversas revoluções e duas guerras mundiais, o que prova que em negócios de Estado a família sempre fica em segundo plano.

Termino este post com uma anedota: A Princesa Leopoldina do Brasil, filha de D. Pedro II, casou-se com Luís de Saxe e após uma breve residência no Brasil, foi morar com o marido e filhos em Coburgo, terra natal dele, morreu lá ainda jovem em decorrência de um parto mal assistido, aos 24 anos. Os habitantes da cidadezinha ficaram comovidos com a morte dela e a reverenciavam sempre que podiam. Ela foi enterrada em Coburgo dentro da igreja que contém todos restos mortais dos duques e duquesas de Coburgo. Não sei se tem a ver com a passagem da Princesa do Brasil pela cidade, mas Coburgo é considerada a capital do samba na Europa. Isso mesmo, você não leu errado, lá há inclusive um festival de samba que ocorre em julho.

Para o leitor ver que "a família" tentou inclusive chegar no Brasil...

Obrigada até o próximo post!

4 comentários:

  1. Blé, eu não gosto da Rainha Vitória!

    Ah, pelo menos George III era bi - pq bêbado todos os ingleses são! =P Quantos Reis não eram só mono???

    Beijos!

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  2. George III não era bi, Guilherme II da HOLANDA era bi! E eu não gosto de você por não gostar da Rainha Vitória!! :p risos

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  3. Aí eu confundi os pauzinhos, mas era óbvio que tinha que ser o 2 para ser bi (piada infame e idiota!)

    Eu sei que você não gosta de mim, mas olha a minha cara de quem tá se importando! =P Mas a minha não dileção por ela é completamente oposta ao que sinto por você! ;)

    Beijão!

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  4. Respondendo sua pergunta alguns, mas não todos, principalmente na Inglaterra. Interessantemente a França teve mais do que a Inglaterra, e aqueles ficaram com a fama de homossexuais injustamente...

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